Friday, March 11, 2011

O golpe mais forte

O golpe que mais fere é aquele que vem de repente, de onde a gente não espera. Ficamos desorientados e vamos imediatamente à lona sem saber ao certo o que aconteceu. Já fui nocauteado assim uma vez, quando meu irmão mais novo faleceu. Ele tinha 18 anos e sofreu um acidente de carro quando passeava com os amigos numa tarde de sábado como outra qualquer. Ontem, se estivesse fisicamente aqui conosco, estaríamos comemorando seus 34 anos de vida. Estaria ele casado? Teria filhos? Planos para o futuro? Acredito que sim. Mas quis Deus que o nosso Duti, como carinhosamente o chamávamos, subisse mais cedo. Era sua hora e, crendo nisso, conseguimos encontrar certo consolo.

Agora, novamente um golpe forte vem nos acertar. Foi-se embora uma colega tão jovem, bonita e cheia de vida... Juliana era alguém que, assim como meu irmão, tinha pela frente um futuro repleto de possibilidades. Ao tomar conhecimento de sua partida, confesso que demorei alguns instantes para acreditar. Todos os que gostavam dela, a bem da verdade, devem ter se sentido assim. Especialmente seus familiares e amigos mais íntimos, a quem expresso meus profundos sentimentos.

Todos nos perguntamos o porquê, especialmente pelas circunstâncias em que a sua despedida se deu. Por que alguém que se divertira tanto em sua festa de formatura tomaria, poucos dias depois, uma decisão como essa? Tentamos encontrar alguma razão capaz de explicar algo que, sinceramente, não imagino que possa ser explicado. Porque qualquer que fosse a explicação encontrada, isso não nos levaria de volta no tempo, a tempo de impedir a sua perda. A nossa perda. Seria essa a sua hora? Temos o direito de fazer essa escolha?

De certa forma, nós também ficamos sufocados. Enforcados em nossas dúvidas e na tristeza de não haver mais o que fazer pela Juliana. Como seu ex-professor, já me peguei várias vezes tentando recordar um sinal de que alguma coisa com ela não ia bem. Nunca percebi nada diferente. Só me lembro de uma garota meiga e sorridente, a mesma que dançava e se divertia em seu baile de formatura. E isso só me deixa mais confuso e mais desconsolado.

Como patrono da turma da Juliana, sei que seus colegas também precisam de algumas palavras. Alguma orientação para esse momento de dor. Mas não há muita coisa a dizer, pois como resumiu muito bem o nosso amigo Lamounier, "é preciso uma circunstância dessas, como a que aconteceu com a nossa querida Juliana, para, agora, percebermos que, afinal, nós também não somos lá tão fortes assim. Pensar que somos mais fortes para lidar com as perdas revela-se uma ilusão. Neste assunto, também nós, professores, estaremos constantemente aprendendo."

A mim, a perda da Juliana ensinou que preciso estar mais atento às pessoas que me cercam. Aos meus amigos, meus parentes, minhas filhas e, claro, aos meus alunos. Para que eu perceba melhor as suas ansiedades, suas dificuldades, suas frustrações. Para que eu seja capaz de ouvi-los e orientá-los melhor. E para que assim eu possa inspirá-los e me manter inspirado para a vida. Acredito que seja essa a grande lição que Juliana nos deixou. Aprendê-la é uma forma de honrar sua memória e de trazer um pouco de consolo ao nosso coração.

5 comments:

Sula said...

Querido Prof...
Faço minhas as suas palavras!
É preciso mesmo aprender a valorizar mais as pessoas, entende-las, reconher suas fraquezas e auxiliá-las. Esta é a lição. Sentimos muitíssimo por isso! Mas precisamos contar uns com os outros para passar por isso. Obrigada por sua palavras.

Cynthia... said...

Eu também já me perdi em diversos pensamentos tentando entender, justificar, encontrar ao menos um sinal ou motivo que tenha levado nossa colega a esse ponto!
Mas é em vão, acho que poderemos tentar inúmeras vezes encontrar esse porquê e em lugar algum chegaremos!
Agora só nos resta aceitar e deixar que o amor de Deus nos invada e nos dê conforto. E tentar, ainda que pelos menores dos gestos, apoiar a família que tanto sofre nesse momento.
Também agradeço por suas palavras.

Tiago Figueira said...

Inteligentíssimas suas palavras Daniel. Compartilho do mesmo ponto de vista e sentimento.
Uma imensa e irreparável perda. Deixará saudades e lembranças, dos bons momentos vividos, sempre.
Um abraço e obrigado amparo!

Rafaela said...

Sábias palavras Prof.

É a síntese de tudo que tenho pensado nesses dias...

Como estamos nos tornando cada vez mais individualistas, incapazes de perceber o outro com suas fraquezas, e talvez entender sua alma.

Que Deus conforte a todos nós por essa perda.

SirleneMaria said...

Tive assim como você querido professor à mesma incredulidade. Fico sem chão ao falar deste assunto, pois já fiz parte de uma historia com este mesmo fim. A morte não é fácil mesmo quando acontece de forma ”natural”. Todos esperam que a vida siga seu curso, nascemos,crescemos , envelhecemos e ai podemos morrer, bem ,bem velinhos, ou quem sabe ainda não.
Perguntas, especulações, necessidades de entendimento vêem como turbilhão em nossas cabeças, mas neste momento nada temos ou precisamos entender, a vida é sim como uma caixinha de surpresa. Como entender que assim como um por do sol ao entardecer de um dia de inverno possa acabar a tão grandiosa vida de uma menina de sorriso largo e grande de sucesso pela frente.
Lindas e sábias suas palavras professor.
Peço a Deus que conforte os familiares da colega Juliana.