Saturday, December 12, 2009

Álbum de fotos.

O tempo passa depressa. Fato. E contra fatos, não há argumentos, apenas lamentações. Lamentamos a infância longínqua. As amizades passadas. Os amores perdidos. Lamentamos saber que, nessa corrida impiedosa do tempo, tudo o que vivemos hoje logo ficará para trás. Fato.

Sabendo disso, há alguns momentos que tento congelar na memória. Procuro guardá-los intactos para que um dia, mesmo que não possa revivê-los, eu consiga ao menos resgatar as emoções que vivenciei nesses instantes. Assim, venho aos poucos montando um álbum de fotos virtuais. Mas não na internet, no celular ou no computador. Meu álbum não caberia nesses lugares, apesar de as minhas fotos não possuírem megapixels. Elas são arquiváveis apenas na minha mente e visualizáveis somente em meu coração. Suas cores têm os tons da saudade e o brilho das lágrimas, que insistem em surgir sempre que eu desejo rever a minha coleção ou nela incluir um novo retrato. Como aconteceu hoje.

Ao colocar as minhas filhas para se deitar – “papai, dorme comigo?” – acomodei-me na minha cama entre as duas. Uma tem 5 e a outra tem 8 anos. Breve serão adolescentes, moças, mulheres, enfim, terão outros interesses e, certamente, já não as terei comigo, apenas comigo, como hoje. Viverão sua vida, como deve ser. Click.

Consciente do valor daquele instante de paz e carinho, percebi o quanto estava sentindo falta disto. Como é bom estar com elas assim, sem mais nem por que. Pensei noutros momentos como esse, tão puros e felizes, que o tempo – sem exceções – tratou de levar. Como as madrugadas em que acordávamos exaustos, eu e minha esposa, para ninar as meninas pela terceira ou quarta vez. De repente, já não as ninávamos mais. Quando foi o último dia, a última madrugada em que fizemos isso? Infelizmente, não estava com a minha câmera ligada.

Comentei então com as minhas filhas sobre a importância de se fotografar os momentos mais simples. Fazer isso, de certa forma, é mandar um presente para si mesmo no futuro. E, no futuro, se permitir uma volta ao passado. Contei para elas sobre o meu álbum de fotos e disse-lhes que uma das imagens que mais gosto de rever é de quando elas ainda eram bebês e dormiam de bruços sobre o meu peito, enroscando suas mãozinhas em meus cabelos.

Falei depois para elas que, juntos ali, poderíamos fechar os olhos e ficar abraçados, registrando silenciosamente aquele momento para que um dia pudéssemos relembrá-lo. Quando percebi, as lágrimas já haviam banhado meu rosto e a minha filha mais velha, sentada na cama, olhava-me também com os olhinhos úmidos.

Click. Naquele exato momento, creio que ela começou a montar um álbum de fotos.