Wednesday, May 03, 2006

Idealista incorrigível.

IDEALISTA INCORRIGÍVEL.

Outro dia me disseram que eu sou muito idealista em meu trabalho. Sou mesmo e graças a Deus. Só que idealismo, para mim, é uma coisa completamente diferente daquela que a pessoa que me disse provavelmente imagina. Para ela ser idealista é viver iludido. Para mim é viver motivado. Para ela é ter a cabeça nas nuvens. Para mim é ter os pés no chão. Para ela é enxergar tudo cor de rosa. Para mim é recusar o mundo em tons de cinza.

Eu sou idealista, mas não é porque ainda não caí na real. É porque acho que, quando a gente cai, não é pra ficar frustrado. Decepções acontecem sempre. E daí? Se alguém não entende você, se um projeto não dá certo, se algum problema acontece, se um amigo te desaponta, enfim, se as coisas não saem do jeito que a gente quer, o jeito então é deixar pra lá? Empurrar com a barriga? Fazer nas coxas? Reclamar da vida? Em vez de desanimar, a gente deve é aprender com os erros, sejam nossos ou dos outros. E nunca deixar de acreditar que uma hora as coisas vão dar certo. Com persistência, isso acaba acontecendo.

Mas idealismo não é só acreditar em você. É, principalmente, acreditar no outro. E talvez essa confiança seja o que falte para quem deixou de ser idealista. Na prática, isso é a mesma coisa que perder a esperança, o otimismo. Já pensou? Para um professor, então, essa descrença (ou desconfiança) é mais grave ainda. Como é que se entra em sala já achando que o aluno é desinteressado? Como é que se começa uma nova aula imaginando que no final poucos conseguirão aprender? Como é que se recebe uma nova turma, já imaginando que o relacionamento será difícil só porque não foi fácil com o último professor?

Mesmo que você sinta que está falando para as paredes – como eu várias vezes já me senti – não dá para perder de vista que está diante de pessoas. Pessoas muito diferentes de você e umas das outras, cada qual com a sua personalidade, suas expectativas, seus problemas. Sem atentar para isso, sem se envolver com a turma, não precisa esperar que ela se envolva com você. Muito menos que ela partilhe suas dúvidas e preocupações. Se um professor fica ostentando sua experiência para se colocar acima do seu aluno, ele faz esse aluno se sentir por baixo. E o que nasce daí não é uma relação de respeito, muito menos de admiração. Nesses termos, não se pode esperar mesmo a boa-vontade da turma. Mas isso não se ganha no grito: quando você se torna autoritário, acaba perdendo a autoridade.

Não estou me referindo à autoridade pedagógica, aquela que vem da posição de professor e que é delegada pela escola. Estou falando de um outro tipo de autoridade, que é atribuída pelo próprio aluno e que efetivamente abre as portas para o seu aprendizado. Sem ela você pode até ser professor, mas não será de forma alguma educador. Por isso é que eu penso exatamente o contrário de Maquiavel. Para mim, mais vale ser amado que temido. Vai me chamar de idealista? Tudo bem, pode chamar. E pode ter a certeza de que outras pessoas também são assim. Pessoas com mais experiência do que eu tenho, mais decepções do que eu tive, e que, mesmo assim, trabalham com amor, dedicação e alegria. Entende porque eu não sinto vergonha de dizer que sou idealista?

Meu ideal, como educador, não é ter 100% de atenção de 100% dos alunos durante 100% do tempo em 100% das minhas aulas. Essa, sim, é uma ilusão. Mas não é que eu não queria isso. Mesmo querendo, eu reconheço que aprender depende mais do aluno e, se ele não se interessa, não adianta forçá-lo. O que se pode fazer – esse é o meu ideal - é motivar o estudante para que ele queira aprender. E isso exige muito do professor: faz com que ele reveja seus conceitos, atualize sua metodologia, melhore sua comunicação, respeite as dificuldades da turma, esteja disponível para o aluno e, principalmente, aceite a necessidade de mudar.

O mais difícil de tudo é que nem todos compreendem e valorizam esse esforço. Sempre haverá algumas pessoas que realmente não se empolgam, seja pela incerteza do que querem, seja pela certeza do que não querem, seja pelo desânimo com o futuro ou pela pura e simples falta de maturidade. Coisas que o próprio tempo será capaz de resolver. Isso não pode desanimar a gente. Nesse momento é que ser idealista faz todo sentido. Se você não é, perde logo as estribeiras quando cinco ou dez alunos ficam desligados das suas aulas. Mas se é, mantém sua disposição quando sente que, para pelo menos um, você fez diferença.

Para quem é cético isso é puro romantismo. Para mim, ao contrário, isso é ter os pés no chão. A tarefa de ensinar (ou melhor, de aprender) não é simplesmente quantitativa, é sobretudo qualitativa, pois numa sala de aula não convivem robôs e sim pessoas. Logo, não se pode perder de vista que o papel do professor não é só transmitir conteúdos, acima de tudo é formar gente. Quando eu consigo me fazer ouvir - não importa se por 1, 5 ou 50 – meu esforço já valeu a pena. É isso que me mantém motivado para buscar e ampliar o interesse dos alunos. Pelos resultados que venho obtendo, creio que estou no caminho certo. Então, vou continuar firme e forte com o meu idealismo. Afinal, o mundo pode não ser o ideal. É justamente por isso que ele precisa de ideais.

Se você concorda comigo, registre um comentário aqui. Quem sabe juntos a gente não convence os pessimistas?