Monday, November 27, 2006

Aprendendo e vivendo.

Da primeira vez foi uma paixão. Aquela onda que vem e inunda o cair da tarde, espalhando-se noite adentro, a ponto de deixar qualquer um flutuando ao voltar pra casa. Não parecia nem que um dia inteiro de trabalho havia se passado.

Foi uma época inesquecível. O retrato de um instante de felicidade.

....

Da vez seguinte prometia ser assim. A começar pela notícia inesperada de que aquele primeiro encontro teria continuidade. Tão grande a surpresa quanto as expectativas.

Mas a verdade foi bem outra. Aos poucos, o cotidiano foi cumprindo seu papel de recolher os pensamentos, os desejos e os sonhos. De repente, a voz já não se ouvia. O sorriso empalidecia. A atração escasseava.

Relacionamento morno, amortecido.


.....

Veio então a terceira vez e junto com ela, outra surpresa, prenunciando o que viria dali em diante. Perplexidade, desapontamento, chateação. Um emaranhado de emoções que mal se podia crer estar sentido.

Estar junto não mais por desejo, mas pela sensação do dever. Sensação que acaba nos deixando em débito com a gente mesmo.

Podia ser uma chance de recuperar o tempo perdido. Mas parece que foi apenas mais tempo que se perdeu.

Podia ser um reencontro... vã ilusão. Mas será que não valeu a pena?

Talvez sim. Às vezes, o desencontro com o outro é um encontro consigo mesmo.

Relacionamentos vêm e vão. Alguns deixam boas lembranças. Outros sequer deixam saudades. Mas todos deixam lições.

É claro que somente para quem sabe aprender.

Friday, September 15, 2006

POESIA

Para uma amiga verdadeiramente inspiradora.


POESIA.

Redação é técnica.
Poesia é tântrica.

Redação é fórmula.
Poesia é mágica.

Redação é razão.
Poesia é paixão.

Redação é raciocínio.
Poesia é espontânea.

Uma é só texto.
Outra, contexto.

Uma quer chão.
A outra, não.

Poesia é tudo que vem de dentro extrapolando as palavras,
pois as palavras são rasas quando se fala de sentimentos.

Poetizar é ir além da redação. É escrever o que não está escrito,
Deixar o dito pelo não dito. Fazer de um ponto uma interrogação.

Poetizar é dar ao texto o direito de sonhar. Mas só pode sonhar em poetizar quem compartilha a própria inspiração. Pois se a poesia está no céu, ser poeta é trazer o céu para dentro do coração.

Wednesday, June 28, 2006

FALHA NOSSA.

Tem uma coisa que eu vivo repetindo pra mim mesmo e, às vezes, digo também aos meus amigos: “nunca dê sua razão para o outro”. Faça a coisa certa para que ninguém reclame depois e você não possa falar nada porque sabia que estava errado. Se você estiver com a razão, pode até ser criticado e ter que engolir um sapo. Mas na sua consciência, você terá paz porque agiu corretamente. Daí, pelo menos, o sapo vira rã.

Essa é uma filosofia que eu procuro seguir. O problema é que eu me cobro demais e essa cobrança vem com juros muito altos: ansiedade, insegurança, perfeccionismo e, no final das contas, frustração. Isso porque, quando você não se permite errar, você acaba errando. Pode reparar, é batata. Ou melhor: é pepino, abacaxi. E daqueles difíceis de descascar.

Mas graças a Deus, de uns tempos pra cá eu tenho conseguido me entender melhor. Passei a me respeitar mais e a brigar menos comigo. Não fico pegando tanto no meu pé. Isso tem me feito muito bem, pois me sinto mais confiante, mais tranqüilo, embora continue exigente do mesmo jeito.

O segredo é não ficar sofrendo pelos erros. Vale mais a pena aprender. Então, se alguma coisa dá errado, em vez de desanimar e reclamar, vamos procurar a razão. Mas sem essa de caçar bode expiatório, porque isso também não leva a nada. É transferência de culpa. Babaquice.

Se o problema é fruto de uma casualidade que não pôde ser evitada, não adianta mesmo a gente reclamar e sofrer. O lance é absorver o impacto e tocar a bola pra frente.

Se o que pegou foi a conduta de alguém próximo, vale dar um toque na pessoa. Vale até um puxão de orelha, se essa pessoa está sob a nossa responsabilidade. Do contrário, só podemos mesmo aconselhar. E conselhos, a gente sabe, todo mundo gosta de dar, pouca gente de receber.

Agora, se a questão foi mesmo “Falha Nossa”, aí não tem jeito: demos a nossa razão para o outro e temos que aceitar a crítica. Principalmente nossa auto-crítica, afinal, nessas horas a gente sente vergonha, raiva, arrependimento, desânimo e uma porção de outras coisas.

Só que nada disso leva a gente pra cima, só pra baixo. Por isso, esse é o momento em que precisamos ser mais compreensivos com a gente mesmo. Não para relaxar e chutar o balde, mas sim para aproveitar a oportunidade e crescer. Mais importante do que a gente saber o que fez de errado, é compreendermos o que é preciso fazer para as coisas darem certo.

Wednesday, May 03, 2006

Idealista incorrigível.

IDEALISTA INCORRIGÍVEL.

Outro dia me disseram que eu sou muito idealista em meu trabalho. Sou mesmo e graças a Deus. Só que idealismo, para mim, é uma coisa completamente diferente daquela que a pessoa que me disse provavelmente imagina. Para ela ser idealista é viver iludido. Para mim é viver motivado. Para ela é ter a cabeça nas nuvens. Para mim é ter os pés no chão. Para ela é enxergar tudo cor de rosa. Para mim é recusar o mundo em tons de cinza.

Eu sou idealista, mas não é porque ainda não caí na real. É porque acho que, quando a gente cai, não é pra ficar frustrado. Decepções acontecem sempre. E daí? Se alguém não entende você, se um projeto não dá certo, se algum problema acontece, se um amigo te desaponta, enfim, se as coisas não saem do jeito que a gente quer, o jeito então é deixar pra lá? Empurrar com a barriga? Fazer nas coxas? Reclamar da vida? Em vez de desanimar, a gente deve é aprender com os erros, sejam nossos ou dos outros. E nunca deixar de acreditar que uma hora as coisas vão dar certo. Com persistência, isso acaba acontecendo.

Mas idealismo não é só acreditar em você. É, principalmente, acreditar no outro. E talvez essa confiança seja o que falte para quem deixou de ser idealista. Na prática, isso é a mesma coisa que perder a esperança, o otimismo. Já pensou? Para um professor, então, essa descrença (ou desconfiança) é mais grave ainda. Como é que se entra em sala já achando que o aluno é desinteressado? Como é que se começa uma nova aula imaginando que no final poucos conseguirão aprender? Como é que se recebe uma nova turma, já imaginando que o relacionamento será difícil só porque não foi fácil com o último professor?

Mesmo que você sinta que está falando para as paredes – como eu várias vezes já me senti – não dá para perder de vista que está diante de pessoas. Pessoas muito diferentes de você e umas das outras, cada qual com a sua personalidade, suas expectativas, seus problemas. Sem atentar para isso, sem se envolver com a turma, não precisa esperar que ela se envolva com você. Muito menos que ela partilhe suas dúvidas e preocupações. Se um professor fica ostentando sua experiência para se colocar acima do seu aluno, ele faz esse aluno se sentir por baixo. E o que nasce daí não é uma relação de respeito, muito menos de admiração. Nesses termos, não se pode esperar mesmo a boa-vontade da turma. Mas isso não se ganha no grito: quando você se torna autoritário, acaba perdendo a autoridade.

Não estou me referindo à autoridade pedagógica, aquela que vem da posição de professor e que é delegada pela escola. Estou falando de um outro tipo de autoridade, que é atribuída pelo próprio aluno e que efetivamente abre as portas para o seu aprendizado. Sem ela você pode até ser professor, mas não será de forma alguma educador. Por isso é que eu penso exatamente o contrário de Maquiavel. Para mim, mais vale ser amado que temido. Vai me chamar de idealista? Tudo bem, pode chamar. E pode ter a certeza de que outras pessoas também são assim. Pessoas com mais experiência do que eu tenho, mais decepções do que eu tive, e que, mesmo assim, trabalham com amor, dedicação e alegria. Entende porque eu não sinto vergonha de dizer que sou idealista?

Meu ideal, como educador, não é ter 100% de atenção de 100% dos alunos durante 100% do tempo em 100% das minhas aulas. Essa, sim, é uma ilusão. Mas não é que eu não queria isso. Mesmo querendo, eu reconheço que aprender depende mais do aluno e, se ele não se interessa, não adianta forçá-lo. O que se pode fazer – esse é o meu ideal - é motivar o estudante para que ele queira aprender. E isso exige muito do professor: faz com que ele reveja seus conceitos, atualize sua metodologia, melhore sua comunicação, respeite as dificuldades da turma, esteja disponível para o aluno e, principalmente, aceite a necessidade de mudar.

O mais difícil de tudo é que nem todos compreendem e valorizam esse esforço. Sempre haverá algumas pessoas que realmente não se empolgam, seja pela incerteza do que querem, seja pela certeza do que não querem, seja pelo desânimo com o futuro ou pela pura e simples falta de maturidade. Coisas que o próprio tempo será capaz de resolver. Isso não pode desanimar a gente. Nesse momento é que ser idealista faz todo sentido. Se você não é, perde logo as estribeiras quando cinco ou dez alunos ficam desligados das suas aulas. Mas se é, mantém sua disposição quando sente que, para pelo menos um, você fez diferença.

Para quem é cético isso é puro romantismo. Para mim, ao contrário, isso é ter os pés no chão. A tarefa de ensinar (ou melhor, de aprender) não é simplesmente quantitativa, é sobretudo qualitativa, pois numa sala de aula não convivem robôs e sim pessoas. Logo, não se pode perder de vista que o papel do professor não é só transmitir conteúdos, acima de tudo é formar gente. Quando eu consigo me fazer ouvir - não importa se por 1, 5 ou 50 – meu esforço já valeu a pena. É isso que me mantém motivado para buscar e ampliar o interesse dos alunos. Pelos resultados que venho obtendo, creio que estou no caminho certo. Então, vou continuar firme e forte com o meu idealismo. Afinal, o mundo pode não ser o ideal. É justamente por isso que ele precisa de ideais.

Se você concorda comigo, registre um comentário aqui. Quem sabe juntos a gente não convence os pessimistas?

Tuesday, March 07, 2006

Agora eu é que não quero.

Cof...cof...cof...deixa eu tirar a poeira desse blog... cof...cof... antes de iniciar um texto novo... cof...

Pronto, ufa!


Só agora consegui um tempo (nem sei como) e um assunto pra quebrar esse jejum. Aliás, um assunto não muito agradável. Sabe aquelas vezes em que você quer alguma coisa, acha que vai rolar, mas acaba não rolando? Pois é. Aconteceu comigo. Foi assim:

Ganhei uma passagem pra Nova York num concurso de publicidade. Depois de prorrogar a viagem várias vezes, marquei a data do vôo pra daqui a um mês. O melhor é que, chegando lá, eu tinha um lugar pra ficar de graça. Ou seja: viagem e hospedagem totalmente 0800. Beleza né?

Só faltava um detalhe: o raio do visto. Todo mundo fala que isso é um saco. Na verdade, não. É uma sacola extra-large-big-max-super-size. Bota saco nisso. Primeiro, tem toda bur(r)ocracia que isso envolve: pega fila, tira passaporte, pega fila, paga taxa, acessa a internet, baixa formulário, preenche formulário, preenche formulário de novo (tem que ser em inglês, viu?)... ah, e não esquece da foto 5x5 (tem que usar roupa escura e ficar no fundo claro, tá?).

Pensa que acabou? Tsc tsc tsc... tá só começando: agora é agendar a entrevista no consulado lá em São Paulo. Mais US$100. (Ou melhor: MENOS US$100). Pagou e marcou a data, tem que preparar toda a documentação. E tome cópia disso, original daquilo, um certificado aqui pra certificar, um comprovante ali pra comprovar e um atestado acolá para atestar. Tudo pronto? Não esqueceu nada? Tem certeza? Lá vai mais uma revisão na pastinha.

Chegando em São Paulo, com aquele trânsito maravilhoso, convém não perder tempo. Direto pro Consulado. A entrevista é às 10h, você chega às 10 para as 8h e já vai pegando a fila. Aliás, convém colocar isso no plural: é fila pra entrar no consulado, fila pra pegar a fila depois que você entra, fila para a pré-entrevista, fila para registro das impressões digitais e, finalmente, fila para ser entrevistado. (Graças a Deus, não tinha fila pro banheiro).

O legal disso tudo é que, enquanto você está na fila, vai sacando os tipos que estão lá tentando o visto também. Tem o tipo surfista, de bermudinha e camiseta-mamãe-sou-forte. Tem o tipo advogado, de terninho e jeito arrogante. Tem o tipo “família japa”, além dos tipos-estudante, patricinha e outros “gente como a gente”.

Você vai tentando perceber quem consegue e quem não consegue o visto. É interessante que em alguns guichês a rotatividade é maior. Deve ser porque lá o ar condicionado funciona melhor, a esposa do entrevistador não dormiu de calça jeans, ou ele está saindo de férias, anyway, o fato é que por algum motivo estranho, os índices de aprovação são maiores.

Baseado nessa teoria, eu torcia pra ser chamado para o guichê 12. Mas, infelizmente, acabei parando na cabine 10. Do outro lado do vidro (é assim que o negócio funciona), o bonitão tava lá sentadinho, enquanto a gente permanece em pé e fala com ele pelo telefone. Tipo aquelas visitas de presídio, sabe? (A diferença é que, nesse caso, o preso é quem decide quem é livre e quem vai pra guilhotina).

No meu caso, não demorou muito. Pra ser mais exato, nem 5 minutos. O sujeitinho fez meia dúzia de perguntas e já tascou o carimbo negando o visto. Onde já se viu? Disse que infelizmente não poderia permitir minha entrada nos States nesse momento. Se eu quisesse, poderia fazer outra tentativa dentro de 6 meses (pagando, evidentemente, mais 100 doletas).

Eu até ousei perguntar porquê. Na sua lógica perfeita, eu não apresentei fortes razões para querer voltar ao Brasil depois de ter entrado nos “Estadas Unidas”. Claro que não conta o fato da viagem ter sido uma premiação de uma entidade empenhada no combate às drogas.

Também não conta o fato de eu ser professor universitário e ter comprovado meu vínculo com a escola. Tampouco conta o fato de eu ter sido recém aprovado num Mestrado oferecido por uma respeitada instituição federal.

Esposa, filhos, imóvel praticamente quitado, boa condição financeira? Isso também não conta, claro. Aliás, ele nem me perguntou sobre isso. Deve ser porque esse pessoal tem o dom da clarividência. Ou melhor, pensa que tem.

O resultado é que eu saí dali, digamos, com uma grande simpatia pelo Osama Bin Laden. Esse american way realmente me deixou puto. Mas o pior nem foi isso. Foi ficar pensando depois no que eu poderia ter feito de maneira diferente pra conseguir o tal visto. Como se eu tivesse culpa, imagine...

Pensei tanto nisso enquanto voltava pra BH (de ônibus ao meio-dia), que consegui chegar a uma conclusão: fosse o que fosse que eu dissesse, seria melhor ter caído no guichê 12. Daí, acabei tomando uma decisão: agora, quem não quer ir pra lá sou eu. Vou perder a passagem (e daí? Não paguei por ela mesmo...) e não vou mais pedir visto coisíssima nenhuma. Eles que fiquem com seus furacões, enchentes, atentados e a pior de todas as calamidades: o Bush.

Agora eu quero é viajar para a Argentina. Vou fazer bundalelê em frente à Casa Rosada em vez da Casa Branca. Vai ser muito mais legal, já pensou? Se o Brasil ganha o hexa, eu ainda viajo com a camisa da seleção.