Friday, July 29, 2011

Entrei na Turma da Mônica.



Uma das coisas mais gostosas de escrever é que, quando é você quem segura o lápis (ou escolhe as teclas, se assim preferir), pode deixar a sua imaginação correr solta e inventar as histórias que quiser. Você escolhe as personagens, os cenários, os conflitos e termina (ou não) do jeito que planejar.

Imagine então poder fazer tudo isso com personagens que você adora, que cresceu se divertindo com as suas histórias e agora compartilha essa mesma diversão com seus filhos (ou filhas, no meu caso). E não é que, graças a Deus, eu tive essa oportunidade?

De repente, caiu no meu colo a chance de participar da criação de uma série de animações da Petrobras em comemoração aos 500 filmes nacionais patrocinados pela empresa, produzidos por ninguém menos do que o aclamado Mauricio de Sousa. Foi algo inesperado e muito, muito bem-vindo. Afinal não é todo dia, nem todo mundo, que tem uma oportunidade assim.

O “convite” veio do amigo Arthur Junior, que trabalha na Gerência de Publicidade e Promoções da Petrobras e que já vinha desenvolvendo esse projeto. A ideia era destacar a importância da empresa para a retomada do cinema nacional, mostrando alguns dos grandes sucessos que ela ajudou a viabilizar com o seu patrocínio. Os vídeos seriam lançados no Anima Mundi, em São Paulo (por isso a opção por animações) e depois divulgados na internet.

Em princípio, as animações seriam totalmente originais, ou seja, não utilizariam a Turma da Mônica. Mas por que não? Se tínhamos o talento de Mauricio de Sousa e da sua equipe ao nosso lado, por que não aproveitar a sua criação mais ilustre? Desde pequeno costumo ler suas historinhas. Os armários lá de casa estão repletos de suas revistinhas e DVDs e, como se isso fosse pouco, até mesmo as brincadeiras com as nossas filhas envolvem imitações dos personagens dessa turminha. (Minha esposa faz a Mônica, o Cascão, o Cebolinha e a Magali. E eu faço o Chico Bento, o Louco e... bem, acho que só sei fazer esses mesmo).

Com toda essa “experiência”, eu sabia bem que as paródias de filmes famosos já eram uma tradição da Turma da Mônica. Então, conversando com o Arthur, concordamos que seria esse o caminho criativo do projeto. Começamos a trocar ideias sobre possíveis crossovers com filmes patrocinados pela Petrobras. A primeira ideia que me veio à mente foi aquela cena do Capitão Nascimento em “Tropa de Elite”, explicando aos aspirantes o conceito de estratégia em vários idiomas. Imaginei o Cebolinha fazendo o mesmo com os meninos da turma – a sua “Tlopa de Elite” - ao explicar uma nova estratégia pra derrotar a Mônica.

No embalo desse brainstorm, outras ideias começaram a pipocar (tudo a ver com cinema, né?). Lembrei daquela cena da galinha correndo na favela em “Cidade de Deus” e imaginamos o Chico Bento correndo atrás da Giselda. Pensei também no filme Saneamento Básico: todos reclamando do mau cheiro da fossa e, na verdade, o “culpado” seria o Cascão.E o Arthur teve a ideia genial de fazer o Cebolinha e a Mônica trocarem de corpo, como no filme “Se eu fosse você”.

Daí em diante passamos a bola para os Estúdios Mauricio de Sousa. A partir do nosso conceito criativo e dos argumentos que sugerimos, eles criaram os roteiros técnicos e produziram os cinco filmetes com a supervisão do próprio Mauricio. E esse pessoal merece todos os aplausos, pois não apenas compreenderam perfeitamente a nossa ideia, como a enriqueceram com cenas e diálogos interessantíssimos. O encontro de Chico Bento e Zé Pequeno, particularmente, eu considero brilhante. Uma solução criativa, inteligente, sutil e muito engraçada para tornar possível o encontro de duas personalidades tão distintas.

Aliás, fiquei muito feliz – e até mesmo surpreendido – pela ousadia de Maurício de Sousa ao permitir que as suas criações contracenassem com personagens como o próprio Zé Pequeno e o Capitão Nascimento. “Os encontros são inusitados, mas com uma boa história tudo é possível", como disse o próprio Maurício.

Acho que esse é o espírito dos grandes criadores. Deve-se ter bom senso, mas não medo da polêmica. Afinal, quem quer agradar a todo mundo acaba não agradando a ninguém. Assim, agora que os vídeos foram lançados, era natural que essa proposta criativa encontrasse os seus críticos. Por outro lado, a repercussão positiva tem sido incomparavelmente maior. Em menos de uma semana na internet, os cinco vídeos já tiveram mais de 228 mil exibições (e isso considerando somente o número de views do Canal da Petrobras no Youtube), colhendo elogios atrás de elogios.

O projeto ganhou destaque no Portal Globo.com e em sites como o Uol, O Globo, Folha, Uai, Clube Online (do Clube de Criação Publicitária de São Paulo), Omelete, Brainstorm #9, Update or Die, entre outros, além de vários blogs que divulgaram os vídeos multiplicando a sua divulgação.

Tamanha receptividade tem sido muito gratificante. Essas animações constituem um material de primeira qualidade que pude participar da sua concepção e que, sem dúvida, vai valorizar ainda mais o meu portfolio. Mas o maior reconhecimento, sinceramente, eu já colhi. Não há nada melhor do que assistir a um desses vídeos com as minhas filhas sorrindo no meu colo e poder dizer: “Sabe essa historinha? Foi ideia do Papai”.


Clique aqui para ver os vídeos.