Friday, October 08, 2004

Zero a Zero

O treino havia começado. Os jogadores estudavam passes, enquanto o treinador repassava as instruções. Para ele, nada de novo: somente os fundamentos básicos do jogo. O esquema também era clássico: o 4-4-2, idealizado pelo mestres da bola e seguido de Genebra ao Amazonas. Uma língua falada e consagrada nos gramados.

Alguns jogadores arriscavam chutes, sob o olhar arbitrário do professor. Eis que surge uma oportunidade de gol. Um dos atletas percebe. Ávido para conquistar um lugar entre os titulares, levanta a mão pedindo o passe. Recebe e, cheio de entusiasmo, dispara como centroavante rompedor. Senhor de si, já tinha toda jogada desenhada na cabeça. Sabia antecipadamente os dribles e as fintas que deveria buscar em seu repertório. Imaginava-se escapando dos zagueiros, livrando-se do goleiro e estufando as redes.

Mas antes que ele desse o segundo passo – priiiiiiiiiiiiii - o gol da rodada desaparece nas nuvens. Ressentido como escritor de quem roubaram a poesia, o atleta recebe a repreensão do treinador. “Menos, meu filho. Agora volta pro meio e repete a jogada do jeitinho que eu mandei.”

O jogador obedece. Se discutir com o treinador não sai do banco de reservas. “Vai ver ele é daqueles que só jogam pelo empate.”

1 comment:

Tatiana Jardim said...

Sempre existirão técnicos como esse na nossa vida. Eu chamo isso de doença: SPP. Tem dois tipos e até hoje a medicina não conseguiu definir qual é o pior tipo. O SPP tipo 1 significa que a pessoa tem Síndrome do Pequeno Poder. A tipo 2 quer dizer que a pessoa tem Síndrome do Pinto Pequeno. Nas duas manifestações, todos os doentes tentam mostrar um poder que não têm, às vezes sem motivo nenhum. Remédio contra o contágio? Algodão no nosso ouvido. Adorei esse texto!