Saturday, April 21, 2007

MEU PAI RASPOU O BIGODE.

Dedico esse texto ao meu maior professor: meu pai.


Nesses meus 34 anos de vida, só me lembro do meu pai sem bigode nas fotografias que vi da sua juventude. Assim, ficou estampada na minha mente, uma imagem muito clara do papai sempre de bigodão e com aquele sorriso escondido por trás dele. Bigode que era pretinho no início e aos poucos foi se acinzentando, enquanto os fios brancos tomavam conta do terreno. De repente, não é que aparece na sala o meu velho com aquele rosto todo lisinho, tipo “bundinha de neném”? Que sensação esquisita, nem sei como definir. Era o meu pai e ao mesmo tempo... sei lá... não era ele.

Achei engraçado, fiz brincadeiras, tirei foto com o celular e tudo mais. Mas no fundo, confesso que achei muito estranho vê-lo assim. E aí fiquei até me sentindo um pouco culpado, afinal, volta e meia eu perguntava se ele não pensava em tirar o bigode. É claro que ele pensava, óbvio que sim. Quem é que se olha no espelho e não sente vontade de mudar alguma coisa de vez em quando? Eu mesmo vivo enjoando da minha cara e ora uso cavanhaque, ora barba e ora fico de “baby face”. Ou seria “baby but”? O curioso é que bigode eu nunca usei (acho que saiu de moda).

Mas olhando para o meu pai, penso como deve ter sido difícil pra ele criar coragem pra raspar o bigode. Depois de tantos anos, aquela faixa de cabelo entre a boca e o nariz fica tão natural, que nem dá pra se imaginar sem ela. Por isso, ainda que isso pareça algo simples e sem importância, eu acho que a atitude dele foi um gesto de coragem, sim. A coragem de mudar e enfrentar de cara limpa (literalmente) as brincadeiras e a sensação de estranhamento dos outros e, principalmente, de si mesmo.

É justamente essa ousadia que nos falta muitas vezes. Quando estacionamos em nossa zona de conforto, paramos de evoluir. Quando nos apoiamos em velhos hábitos, temos resistência em renovar nosso espírito. Por isso não é bom ficar apegado demais com as coisas, sejam roupas, discos, fotografias, lembranças, sentimentos ou até mesmo um bigode.

Vendo meu pai daquele jeito tão diferente, aprendi com ele mais uma grande lição. Tudo na vida tem o seu tempo, mas o presente só é um presente para quem se dispõe a mudar.