Wednesday, February 23, 2011

Porque eu acabei fazendo concurso público.

Prestar concurso público nunca foi um projeto que me atraiu. Tanto que, em 16 de setembro de 2004, publiquei aqui no Jeremias um desabafo explicando porque eu não faria concurso, apesar da insistência de familiares, amigos e dos intrometidos de plantão. Na ocasião, eu disse que manteria os meus pés firmes nessa decisão, pelo menos por ora, fosse por convicção, idealismo ou imaturidade. Hoje, devo dizer que não só mudei minha opinião, como – sim – já cheguei a prestar concursos públicos. Prestei um para a Petrobrás a alguns anos e, depois, tentei o TRT-MG. Por que mudei de ideia? Bom, ainda sou idealista, mas devo ter amadurecido e, certamente, continuo acreditando nas minhas convicções.

Evidentemente, depois da época em que declarei meu “irc” aos concursos públicos, minha vida mudou muito. Nesses sete anos, tive duas filhas, cursei licenciatura, fiz um mestrado e saí do mercado publicitário para ser professor. Não é que eu tenha desistido da publicidade, como se espantaram alguns amigos na época em que contei minha decisão. Tanto que voltei a trabalhar em agência. O fato é que a docência me trouxe uma experiência humana muito mais gratificante. Algo impossível de se encontrar criando anúncios para promoções de pneus... Mas, infelizmente, por mais realizador que seja, somente esse trabalho como professor não poderia me garantir o padrão de vida e a segurança que eu buscava para mim e a minha família. E aí, tão logo concluí o mestrado, percebi que precisava buscar algo mais. Algo que me desse tranquilidade, sem exigir que eu abrisse mão da docência.

Foi aí que a opção “concurso público” voltou a entrar em cena. Sabe aquela pessoa do colégio que nunca te interessou e, muito tempo depois, você reencontra e dessa vez ela te chama atenção? Pois é, foi mais ou menos assim. No início, claro, eu relutei bastante. O concurso da Petrobrás, reconheço que fiz só para apaziguar os bem intencionados conselhos da família. Eu estava naquele momento de definir o que fazer e aí apareceu a oportunidade. “Por que você não faz o concurso?” Acabei fazendo.

Confesso que não estudei absolutamente nada. Como era para a área de publicidade – minha formação de origem – simplesmente fui lá e fiz a prova. E aconteceu exatamente o que eu queria: fui aprovado, mas sem qualquer chance de nomeação (salvo se umas setecentas e quarenta e cinco pessoas forem abduzidas, o que convenhamos é bem improvável).

Na verdade, me desestimulou muito pensar que eu teria que ficar afastado da minha família – um sacrifício válido e provavelmente temporário, eu sei, mas que eu preferia não ter que enfrentar. Reconheço meus limites e sei que estar longe das pessoas que eu amo é um deles. Só que daí em diante, comecei a prestar mais atenção nas vantagens oferecidas pelos inúmeros concursos que existem por aí. Comecei, óbvio, sondando aqueles da área docente, mas sem identificar oportunidades que me interessassem ou para as quais meu perfil se adequasse. E nisso conversei muito com amigos meus que direcionaram suas vidas para o serviço público e me recomendaram bastante esse caminho. Aí apareceu o concurso do TRT.

Motivado pelos conselhos recebidos, percebi que poderia ter ali uma condição de trabalho interessante e, quem sabe, continuar perto da minha família e atuando também como professor. Claro que tinha uma série de variáveis, mas minha própria formação poderia me ajudar a permanecer na minha cidade. Só tinha um detalhe: eu não conhecia absolutamente nada sobre a área de atuação do TRT.

De repente, lá estava eu fazendo cursinho para prestar concurso. E dessa vez foi uma decisão minha, ninguém me forçou a isso. Eu acreditava que tinha chegado a hora de partir pra esse lado. Não me senti “vira casaca”, nem fiquei envergonhado em fazer essa escolha depois te ter declarado tão veementemente minha aversão à ideia de prestar concurso. Só que também não me senti nem um pouco empolgado com isso. Foi uma decisão absolutamente racional. E, assim sendo, não pude afastar de mim o olhar de professor e pesquisador enquanto assistia às aulas do cursinho.

Ficava observando os professores despejando conteúdo atrás de conteúdo, bem como os alunos copiando, copiando e copiando. Ficava nítida a ansiedade de alguns, que apostavam todas as suas fichas naquele concurso, sem saber se seriam aprovados e, mesmo que fossem, se conseguiriam finalmente uma nomeação. Também tinham aqueles “concurseiros”, que tentavam todo tipo de concurso, sempre buscando um salário melhor. Eu não tinha toda essa gana. Meu cérebro estava ali. Meu coração, não.

Quero deixar claro que não critico nenhuma dessas pessoas que abraçam como projeto de vida tentar ingressar na carreira pública. Penso que cada um deve seguir aquilo que acredita ser o melhor para si. Eu também tinha consciência do porquê estava ali naquele cursinho. E sabia que provavelmente não iria passar daquela vez (como de fato não passei), pois havia muitos candidatos muitíssimo mais preparados do que eu. Concluí, ainda durante o curso, que esse seria um projeto de longo prazo. Aquele seria só o primeiro passo. Eu deveria continuar estudando em casa, com mais calma e concentração, e faria outro cursinho quando estivesse mais perto de sair um novo edital.

Mas a gente não engana o próprio coração. Continuo dando aula, voltei a trabalhar com publicidade e deixei os meus livros do cursinho guardados em casa. Sei que, no futuro, pode ser que eu queira reabri-los. Mas sinto que é mais provável que eu tenha que fazer isso. Pelo menos uma coisa é certa: prestar concurso público já não é uma hipótese que eu abomine.

Tuesday, February 08, 2011

Discutindo a relação

Oi, Jeremias.

Sei que tenho sido muito relapso com você. Há tempos não venho aqui para conversarmos. Retorno ocasionalmente para revê-lo, mas saio sempre à francesa, sem dizer nada mais sobre a minha vida, meu trabalho, minha família, meus sonhos. A verdade é que não sei bem o que fazer com você, meu amigo. Sinceramente, nunca soube. Até mesmo o seu nome – Jeremias Boob – poucos entendem o significado. E eu sei que a culpa disso é toda minha, afinal, nunca deixei claro para os outros quem é você ou a que você veio.

Creio que o seu nascimento foi um ímpeto meu, que tinha muito a dizer e na época buscava alguém para ouvir (papel que, aliás, você sempre cumpriu muito bem). Assim, nos primeiros tempos (e lá se vão 7 anos!) eu vinha frequentemente visitá-lo e deixava minhas palavras expostas aqui para quem as quisesse ler. Sem assuntos predefinidos, sem compromissos, nem expectativas, nós conversávamos sobre qualquer coisa. Minha única regra era não ter nenhuma obrigação com você.

Admito que isso pode soar meio cafajeste, mas sei que você me entende, Jeremias, afinal desde o início foi assim. Não queria me comprometer a estar sempre aqui, a ter que inventar o que dizer, mesmo sem vontade ou sem tempo, apenas para bater ponto. Não, essa de virar “blogueiro” nunca fez sentido pra mim e até hoje continua não fazendo. Também nunca pretendi fazer das minhas visitas uma agenda diária. Queria apenas vir aqui de vez em quando e deixar aos seus cuidados aquilo que, por alguma razão, senti necessidade de registrar.

Só que, com o passar dos textos, algo inesperado aconteceu. Você ganhou vida própria e começou a chamar uma atenção que eu sequer imaginava. De repente – e sem que eu percebesse – você já tinha várias perguntas a me fazer. Perguntas de pessoas amigas e desconhecias que eu, na mais completa falta de educação, acabei deixando sem resposta. Até agora.

Mas antes de respondê-las, gostaria de dizer em minha defesa, se me permite, Jeremias, que os últimos anos foram muito exaustivos. Muito. A ponto de meu tempo se esvair, levando consigo a minha disposição de separar alguns momentos para vir até aqui colocar as novidades (e os sonhos) em dia. Por isso, na mesma medida em que você ganhou a atenção de outras pessoas, aos poucos foi perdendo a minha. E agora, ao que parece, estamos sós novamente. Apenas eu e você. Sem comentários.

Então eu me pergunto: o que farei com você, Jeremias? Como fica a nossa relação? Continuo não querendo transformar os nossos encontros em rotina. Não vejo razão em vir aqui só por vir. Escrever só por escrever. Para mim sua existência só faz sentido se fizer sentido o que tivermos pra dizer. Por outro lado, é muito bom saber que posso contar com você para o que der e vier: para desabafar, para poetizar, para filosofar, para rir, para chorar, para rezar, para agradecer, enfim... é para isso que você existe. Ter você para me abrir me faz sentir muito bem. E vez ou outra, conseguimos provocar o mesmo em outras pessoas (o que me faz sentir ainda melhor).

Por tudo isso, tenho pensado muito que é hora de levar um pouco mais a sério a nossa relação. Só não espere que eu venha aqui toda semana com alguma surpresa para você. Se eu puder, virei até mais de uma vez. Mas como eu disse: só se fizer sentido. O que eu espero, isso sim, é ceder mais vezes a esses apelos de colocar sentimentos em palavras. Tentarei ser menos preguiçoso e mais produtivo. Mais espontâneo.

Já tenho alguns assuntos sobre os quais quero falar. Tenho respostas a dar, ainda que com grande atraso, para as pessoas que vieram (e também para as que vierem) visitar você, Jeremias. Pessoas interessadas naquilo que discutimos aqui, porque para elas isso também tem algum sentido. Como a possibilidade de prestar concurso público, por exemplo, sobre a qual falei muito tempo atrás e logo falarei novamente. Conversaremos sobre isso em nossos próximos encontros.

Por ora, e para finalizar (ou melhor, sinalizar) esse recomeço, acho que devo pelo menos explicar de onde veio seu nome - Jeremias Boob. É simples: quem me conhece sabe o quanto eu gosto dos Beatles. E quem também é fã dos fab four sabe que Jeremias Boob é um personagem do filme Yellow Submarine – personagem esse que também é conhecido como Nowhere Man. Ocorre que, pouco antes de você nascer, caro amigo, eu ganhei uma premiação de publicidade utilizando o seu apelido como pseudônimo. Quando tive que escolher um nome pra você, pensei que daria sorte utilizar o mesmo apelido. Como Nowhere Man não estava disponível, resolvi assim te batizar como Jeremias Boob. Meu blog.