Tuesday, March 07, 2006

Agora eu é que não quero.

Cof...cof...cof...deixa eu tirar a poeira desse blog... cof...cof... antes de iniciar um texto novo... cof...

Pronto, ufa!


Só agora consegui um tempo (nem sei como) e um assunto pra quebrar esse jejum. Aliás, um assunto não muito agradável. Sabe aquelas vezes em que você quer alguma coisa, acha que vai rolar, mas acaba não rolando? Pois é. Aconteceu comigo. Foi assim:

Ganhei uma passagem pra Nova York num concurso de publicidade. Depois de prorrogar a viagem várias vezes, marquei a data do vôo pra daqui a um mês. O melhor é que, chegando lá, eu tinha um lugar pra ficar de graça. Ou seja: viagem e hospedagem totalmente 0800. Beleza né?

Só faltava um detalhe: o raio do visto. Todo mundo fala que isso é um saco. Na verdade, não. É uma sacola extra-large-big-max-super-size. Bota saco nisso. Primeiro, tem toda bur(r)ocracia que isso envolve: pega fila, tira passaporte, pega fila, paga taxa, acessa a internet, baixa formulário, preenche formulário, preenche formulário de novo (tem que ser em inglês, viu?)... ah, e não esquece da foto 5x5 (tem que usar roupa escura e ficar no fundo claro, tá?).

Pensa que acabou? Tsc tsc tsc... tá só começando: agora é agendar a entrevista no consulado lá em São Paulo. Mais US$100. (Ou melhor: MENOS US$100). Pagou e marcou a data, tem que preparar toda a documentação. E tome cópia disso, original daquilo, um certificado aqui pra certificar, um comprovante ali pra comprovar e um atestado acolá para atestar. Tudo pronto? Não esqueceu nada? Tem certeza? Lá vai mais uma revisão na pastinha.

Chegando em São Paulo, com aquele trânsito maravilhoso, convém não perder tempo. Direto pro Consulado. A entrevista é às 10h, você chega às 10 para as 8h e já vai pegando a fila. Aliás, convém colocar isso no plural: é fila pra entrar no consulado, fila pra pegar a fila depois que você entra, fila para a pré-entrevista, fila para registro das impressões digitais e, finalmente, fila para ser entrevistado. (Graças a Deus, não tinha fila pro banheiro).

O legal disso tudo é que, enquanto você está na fila, vai sacando os tipos que estão lá tentando o visto também. Tem o tipo surfista, de bermudinha e camiseta-mamãe-sou-forte. Tem o tipo advogado, de terninho e jeito arrogante. Tem o tipo “família japa”, além dos tipos-estudante, patricinha e outros “gente como a gente”.

Você vai tentando perceber quem consegue e quem não consegue o visto. É interessante que em alguns guichês a rotatividade é maior. Deve ser porque lá o ar condicionado funciona melhor, a esposa do entrevistador não dormiu de calça jeans, ou ele está saindo de férias, anyway, o fato é que por algum motivo estranho, os índices de aprovação são maiores.

Baseado nessa teoria, eu torcia pra ser chamado para o guichê 12. Mas, infelizmente, acabei parando na cabine 10. Do outro lado do vidro (é assim que o negócio funciona), o bonitão tava lá sentadinho, enquanto a gente permanece em pé e fala com ele pelo telefone. Tipo aquelas visitas de presídio, sabe? (A diferença é que, nesse caso, o preso é quem decide quem é livre e quem vai pra guilhotina).

No meu caso, não demorou muito. Pra ser mais exato, nem 5 minutos. O sujeitinho fez meia dúzia de perguntas e já tascou o carimbo negando o visto. Onde já se viu? Disse que infelizmente não poderia permitir minha entrada nos States nesse momento. Se eu quisesse, poderia fazer outra tentativa dentro de 6 meses (pagando, evidentemente, mais 100 doletas).

Eu até ousei perguntar porquê. Na sua lógica perfeita, eu não apresentei fortes razões para querer voltar ao Brasil depois de ter entrado nos “Estadas Unidas”. Claro que não conta o fato da viagem ter sido uma premiação de uma entidade empenhada no combate às drogas.

Também não conta o fato de eu ser professor universitário e ter comprovado meu vínculo com a escola. Tampouco conta o fato de eu ter sido recém aprovado num Mestrado oferecido por uma respeitada instituição federal.

Esposa, filhos, imóvel praticamente quitado, boa condição financeira? Isso também não conta, claro. Aliás, ele nem me perguntou sobre isso. Deve ser porque esse pessoal tem o dom da clarividência. Ou melhor, pensa que tem.

O resultado é que eu saí dali, digamos, com uma grande simpatia pelo Osama Bin Laden. Esse american way realmente me deixou puto. Mas o pior nem foi isso. Foi ficar pensando depois no que eu poderia ter feito de maneira diferente pra conseguir o tal visto. Como se eu tivesse culpa, imagine...

Pensei tanto nisso enquanto voltava pra BH (de ônibus ao meio-dia), que consegui chegar a uma conclusão: fosse o que fosse que eu dissesse, seria melhor ter caído no guichê 12. Daí, acabei tomando uma decisão: agora, quem não quer ir pra lá sou eu. Vou perder a passagem (e daí? Não paguei por ela mesmo...) e não vou mais pedir visto coisíssima nenhuma. Eles que fiquem com seus furacões, enchentes, atentados e a pior de todas as calamidades: o Bush.

Agora eu quero é viajar para a Argentina. Vou fazer bundalelê em frente à Casa Rosada em vez da Casa Branca. Vai ser muito mais legal, já pensou? Se o Brasil ganha o hexa, eu ainda viajo com a camisa da seleção.