Eu sou o
vigia da minha própria cela. O guarda que fica do lado de fora balançando as
chaves, só pra me mostrar que, na hora que ele quiser, ele me deixa sair. Eu
sou o cara de cara fechada que mantém meus sonhos bem trancados. Aquele que me
aprisiona numa camisa de força, antes que eu faça alguma loucura. Eu sou o
carcereiro que dispara o alarme, quando eu começo a pensar em fugir. O soldado
que me contém, quando eu ensaio uma rebelião. O agente que passa de noite
batendo nas grades e não me deixa dormir. Eu sou a pessoa de plantão diante das
câmeras, acompanhando todos os meus movimentos. O meu promotor, os meus jurados
e o meu juiz. O diretor da prisão que me
promete liberdade, mas me mantém na solitária. O carrasco esperando chegar o meu
momento final.
Mas do lado
de dentro da cela, eu sigo sonhando com um novo começo. Sou o condenado que
recusa a própria condenação. O preso que se alimenta de esperança com a colherzinha
que ele mistura o café, imaginando cavar um túnel. Eu sou o detento que risca
as paredes contando os dias pra sair da prisão. O cara que simula sorrisos, dissimulando
a sua intenção de fugir. Aquele que se revolta com o seu bom comportamento e
jura pra si mesmo que um dia, sabe lá quando, vai conseguir escapar.
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